A mochila de evasão (do inglês bug-out bag) é uma peça chave para a sobrevivência. Basicamente, é uma bolsa que manterá você e sua família protegidos pelo tempo necessário até que a poeira comece a baixar e você(s) possa(m) decidir os próximos passos. Muitas vezes, ela é usada para levar mantimentos até um ponto de evasão (bug-out location). Este post vai explorar os limites dessa mochila.

Imagine que o pior aconteceu e você tem apenas 15 minutos para sair de casa com toda a sua família e tudo de mais importante que pode precisar. Você não sabe quanto tempo vai precisar para as coisas voltarem ao normal. Talvez, nem voltem ao normal. Já vimos muitas casas serem destruídas por catástrofes naturais no Brasil e estamos começando a ver deslocados de guerra urbana.

Para facilitar a escolha do sobrevivente, eu dividi os itens que ele precisa carregar em 12 categorias. Isso pode ser muita coisa, então se você não sabe por onde começar, dê prioridade absoluta às 6 categorias que eu detalhei neste post. Depois, você pode voltar até aqui e complementar sua lista.

Para confirmar meu comprometimento em deixar sua vida ainda mais prática, eu desenvolvi um checklist bastante completo. Ele foi feito para que você possa distribuir o peso entre outros membros da família capazes de carregar, levei em consideração crianças e animais de estimação e até mesmo a sua predisposição para a aventura. Se for mais audacioso, vai carregar menos peso, mas se preferir ter um pouco de conforto, também encontrará isso na sua mochila.

Você pode baixar o checklist completo clicando neste link.

Este post vai manter o foco nos itens complementares aos das 6 primeiras categorias. Não se deixe enganar: logo na próxima categoria você vai perceber a importância do que vai encontrar no post atual. Acontece que os anteriores são o mínimo que você precisa para sobreviver às intempéries. A partir de agora, você simplesmente terá mais chances diante das adversidades.

Ferramentas

Depois de assegurar proteção, alimento e água, chega a vez de expandir seus horizontes. Como humanos, somos muito frágeis: não temos garras ou presas. Nossos antepassados desenvolveram ferramentas para compensar essa fragilidade. Elas facilitam muito nossas vidas na hora do aperto.

Vamos começar pelas lâminas. Muito progresso aconteceu desde a descoberta do sílex pelo Homo habilis. Um facão tático vai ajudar você a desbravar o mato na maioria das regiões do Brasil. Acontece que a maioria das pessoas acha que essa peça pode ser grande e pesada demais, até um tanto desastrada. Uma faca menor, com serra no dorso pode ser mais útil em situações de sobrevivência urbana.

A maioria dos sobreviventes tem uma multitool. O problema é que eles tem apenas um desses. É importante ter uma dessas peças em cada um dos seus kits e a Makita é conhecida por ser ao mesmo tempo barata e confiável.

Vestuário

Esse é um fator delicado e pessoal. Muitas pessoas acham que por apenas três dias é possível não trocar de roupa e existe certa verdade nisso. A questão é que a umidade, a sujeira e o suor afetam a malha, tornando a roupa que você está vestindo menos eficaz como abrigo. É bom ter ao menos uma troca de roupa.

Além disso, peças como meias e luvas costumam ser esquecidas na pressa e incrivelmente valiosas em certas épocas do ano e regiões do Brasil. As meias precisam ser de lã, para garantir transpiração adequada e é bom que as luvas sejam resistentes aos rigores do trabalho a céu aberto.

Outra peça esquecida e funcional em qualquer tempo é o shemagh. Esse grande lenço quadrado é uma herança dos árabes. Ele cobra a cabeça e o rosto, protegendo do sol, mas também aquecendo em noites frias. Além disso, também serve como sinalizador, filtro de água e até como item de higiene. Existem muitas utilidades para uma peça de tecido tão grande.

As roupas oferecem uma boa oportunidade para revisar sua BoB. No Brasil, temos apenas duas estações do ano: a de calor e a de muito calor. Semestralmente, você vai precisar substituir as peças de roupa da mochila e pode aproveitar essa oportunidade para revisar a validade de medicamentos e comida.

Iluminação

Depois que você já garantiu calor e luz com o fogo, uma boa lanterna confiável vai oferecer uma camada adicional de conforto e segurança. Você não quer desperdiçar preciosos minutos no meio da noite tateando o interior da sua mochila em busca dos curativos de primeiros socorros.

A primeira alternativa é uma simples lanterna de cabeça. Ela vai orientar a luz para onde você estiver olhando e mantendo suas mãos livres para trabalhar. A boa notícia é que mesmo as opções mais baratas fazem um bom serviço, já que raramente são necessárias para um amplo facho de luz.

Bastões de luz química são ferramentas úteis não apenas para a iluminação propriamente dita, como também como instrumentos de resgate. À noite, basta amarrar um deles na ponta de uma corda e girar com intensidade acima da cabeça. O movimento atrairá a atenção de pessoas passando à distância. Eles funcionam mesmo debaixo d’água.

Como último recurso, uma vela e uma lanterninha de chaveiro também podem fazer parte do seu kit. A lanterna cabe no bolso e a vela pode ser usada como combustível para começar uma fogueira. São bastante leves e baratos e não vão ocupar muito espaço na mochila. Lembre de levar todos os itens de iluminação numa parte de fácil acesso, pois assim que a luz natural baixar, você vai precisar deles para montar o acampamento ou buscar outras coisas na mochila.

Higiene

Existem itens de higiene para o grupo e outros de higiene pessoal. Itens baratos como sabonetes de hotel vão facilmente durar todos os dias da viagem e são bem pequenos. Outros, como absorventes femininos ou preservativos oferecem multi-funções como isca de fogo e como cantil de até 1 litro de água.

Um pequeno espelho fará muita diferença se você quiser tirar espinhos do rosto. Ele também pode ser usado como sinalizador, refletindo a luz solar. Escovas de dente e toalhas são dispensáveis por apenas três dias, mas no meio do caos e da adversidade, podem oferecer um providencial e revigorante alento. A sensação de que tudo voltará ao normal.

Em muitas situações de desastre, você pode se ver dividindo espaço com diversas outras famílias. Isso acontece quando pessoas são levadas para abrigos improvisados depois de tempestades e outras calamidades naturais. Esse tipo de “intimidade forçada” cria um ambiente propício para a proliferação de doenças. É preciso se precaver.

Um pouco de álcool em gel e lenços umedecidos vão oferecer alguma proteção. Se você tiver crianças, leve fraldas descartáveis, mesmo que prefira as laváveis. Você não sabe quanta água corrente terá à sua disposição.

Comunicação

Situações de emergência também são intensas em comunicação. Se você estiver em grupo (lembre-se: sobreviver é um esporte coletivo), vai querer falar com os outros membros. Se estiver sozinho, vai precisar buscar ajuda de outras pessoas. Alguns instrumentos de comunicação podem significar a diferença entre a vida e a morte.

A primeira camada de comunicação é à longa distância. Eu costumo desconfiar de aparelhos celulares: eles não são duráveis e podem ser usados como rastreadores por pessoas mal intencionadas. Feito esse alerta, são muito práticos: todo mundo tem um e sabe como usar. No entanto, no caso de perder o seu ou de as comunicações serem interrompidas, é bom ter um par de walkie-talkies de reserva. Um pequeno rádio AM-FM a manivela também pode ajudar a trazer notícias do mundo exterior.

Se você precisar chamar atenção, um apito de emergência será de grande valia. O meu fica pendurado no zíper da mochila, além de outro no chaveiro e um para cada membro da família.

Em termos de localização, lembre-se de levar mapas rodoviários em papel. Você pode baixar o arquivo PDF gratuitamente no site do DER (Departamento de Estradas e Rodagens) do seu estado. Faça a busca. Não confie no GPS do seu celular. Ele costuma falhar mesmo em estradas simples e em condições normais. Tenha também uma bússola e aprenda a usar.

Por falar em métodos analógicos, um pequeno bloco de papel e lápis servirão para criar um diário ou deixar notas importantes. Lembre-se de levar dinheiro em espécie. Os cartões podem não funcionar e haverá filas nos caixas eletrônicos. Além disso, R$ 100 à vista são muito mais confiáveis do que R$ 1.000 no PIX.

Eu guardo o dinheiro dentro de um envelope com documentos importantes. Lá estão meus cartões do banco, RG, CNH, passaporte, certidões de nascimento das crianças etc. É a única coisa que eu preciso jogar dentro da mochila antes de fugir. Isso garante que entre o alerta e a calçada do prédio eu levo menos de 5 minutos, mesmo de escada. Sim, já fiz o teste.

Itens diversos

Existem alguns artigos muito importantes que não se encaixavam nas categorias anteriores. Por exemplo, cordas. O paracord aguenta até 250 kg e pode ser desfeito em fios mais finos para construir uma rede de peixe. Leve ao menos 40 metros cortados em comprimentos de 10 metros. Se precisar, é possível reduzir com um nó específico.

Uma bandana também pode ser usada como filtro improvisado. Se for molhada num córrego, ajuda a refrescar, além de proteger o alto da cabeça dos raios do sol. A função de filtro também pode ser desempenhada por uma máscara N95. Elas são imprescindíveis para escapar de áreas com muita foligem, como desmoronamentos ou incêndios. Lembre de usar também depois de uma enchente, pois a poeira pode ser extremamente tóxica.

Eu enrolo 15 metros de silver tape num antigo cartão de crédito para ocupar menos espaço. Elas vedam rasgos na barraca e até estancam sangramentos. Isso também pode ser feito com um pequeno kit de costura. Roupa rasgada pode ser terrível contra os rigores do clima.

Sacos de lixo de 200 litros reforçados e sacos ziploc de diversos tamanhos podem ser usados como objetos infláveis ou para transportar água, além de vedar e proteger objetos mais sensíveis dentro da mochila. Leve tantos quanto conseguir.

Por onde começar

Se você achou que é muita coisa, tem toda razão. Montar uma mochila de evasão significa colecionar uma enorme quantidade de material e mantimentos e a verdade é que é um projeto que nunca está concluído. Se você ainda não começou a sua, aí vão algumas dicas.

Primeiro, estabeleça prioridades. Baixe o checklist completo gratuitamente clicando nesta parte do texto. Decida qual tipo de sobrevivente você é: mais ousado, mediano ou em busca de maior conforto. Observe também quais os outros membros da sua família que podem carregar peso ou que precisarão da sua ajuda.

Depois, mantenha o foco apenas nas 6 primeiras categorias da lista: abrigo, alimento, água e hidratação, fogo, primeiros socorros e defesa pessoal. Esse é seu ponto de partida e o mínimo que você precisa para sobreviver. Deixe as categorias deste post para um segundo momento, mas não descuide disso.

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